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O Tesouro dos Anéis: roteiros “perdidos” do drama da BBC de Tolkien são descobertos

Manuscritos originais mostram como o autor reescreveu cenas para a adaptação dos anos 1950 de seu épico da Terra-média, o Senhor dos Anéis.

Décadas antes de Peter Jackson dirigir suas épicas adaptações de O Senhor dos Anéis, J.R.R. Tolkien estava envolvido com a primeira dramatização de sua trilogia, cuja sua importância não foi percebida na década de 1950, e acreditava-se que as gravações de áudio da BBC haviam sido destruídas.

Recentemente, um acadêmico de Oxford se aprofundou nos arquivos da BBC e encontrou os roteiros originais das duas séries de rádio com 12 episódios, transmitidos em 1955 e 1956, para a animação da comunidade de estudiosos.

A obra-prima de fantasia de Tolkien foi dramatizada pelo produtor Terence Tiller, cujas marcações rabiscadas no manuscrito definitivamente refletem suas discussões detalhadas com o autor em correspondência e reuniões. Entre as páginas datilografadas, há uma com a caligrafia de Tolkien, com um x vermelho, mostrando sua própria reformulação de uma cena.

Stuart Lee, professor na Faculdade de Inglês da Universidade de Oxford, disse: “Eles disseram que os roteiros foram perdidos, mas estão preservados – a única dramatização profissional de O Senhor dos Anéis feita durante a vida dele [de Tolkien]. Na época, não foi vista como importante pela BBC. Isso mostra como a recepção do livro mudou – pouco interesse em 1955-56, agora um fenômeno global, com o suposto investimento da Amazon de mais de 1 bilhão de dólares em sua adaptação mais recente.”

A descoberta de Lee será apresentada em um novo livro, The Great Tales Never End: Essays in Memory of Christopher Tolkien (em tradução livre: Os Grandes Contos Nunca Terminam: Ensaios em Memória de Christopher Tolkien), no qual os acadêmicos prestam homenagem à sabedoria do filho dedicado e executor literário de Tolkien, que faleceu em 2020.

 

O livro, com publicação prevista para junho pela Bodleian Library Publishing, é co-editado por Richard Ovenden, bibliotecário da Bodley na Universidade de Oxford, e por Catherine McIlwaine, arquivista de Tolkien na biblioteca Bodleiana.

“À medida que os fãs aguardam a série da Amazon Prime baseada na Segunda Era da Terra-média, na ocasião tivemos o próprio Tolkien se envolvendo com a primeira adaptação de O Senhor dos Anéis”, disse McIlwaine.

“Ele não só concordou com a adaptação de seu livro logo após a publicação, mas ele estava disposto a trabalhar com os roteiristas, para adaptar o texto e ajustar o equilíbrio entre a narração e os diálogos, de modo que se enquadrasse com a limitação do tempo disponível e os requisitos do rádio. É uma descoberta muito emocionante e oportuna.”

A série foi transmitida logo após a trilogia de Tolkien ser publicada. Enquanto a primeira série cobriu A Sociedade do Anel em seis episódios, a segunda condensou As Duas Torres e O Retorno do Rei nos seis episódios seguintes, e os produtores da BBC diminuíram cada um deles de 45 para 30 minutos – para o desgosto de Tolkien.

Lee disse: “setenta anos depois, nós o trataríamos como uma escritura sagrada. Esses roteiros revelaram que, na década de 1950, eles não tinham nenhuma percepção de quão importante seriam os escritos.”

Ele argumenta: “se os livros tivessem sido lançados há mais tempo e se estivessem mais estabelecidos no mercado, talvez os produtores executivos da BBC concordariam de cada episódio ter 45 minutos de duração e até mesmo estender a produção para três séries.”

Tolkien, que faleceu em 1973, era naturalmente desconfiado de tais dramatizações, especialmente depois de ver alguns filmes da Walt Disney, como Branca de Neve e os Sete Anões baseado no conto de fadas dos Irmãos Grimm de 1812. Em 1937, ele escreveu sobre sua “sincera aversão” pelas produções da Disney. Lee ficou surpreso que aquelas páginas com as anotações de Tolkien tinham sido esquecidas até agora. Embora um estudioso notara o material, ele não foi amplamente discutido, e Lee o publicará em seu ensaio no próximo livro.

Ele apresenta a reelaboração de Tolkien de uma cena em que Frodo Bolseiro, o hobbit que recebeu um anel mágico de invisibilidade, seu companheiro Sam e o guerreiro Aragorn mencionam os espectros malignos – seres mortos-vivos:

Frodo: O que aconteceu? Onde está o rei pálido?
Sam: Perdemos o senhor, senhor Frodo. Onde o senhor foi?
Frodo: Você não os viu? – os espectros e o rei?
Aragorn: Não, apenas suas sombras…

Tolkien descreveu os espectros ao narrador, que conectou as cenas: “No instante as formas ficaram terrivelmente nítidas. Ele podia ver por baixo de seus mantos pretos. Em seus rostos brancos olhos impiedosos queimavam…”

Lee disse: “sem a liberdade que ele havia no romance, ele considerou a melhor maneira de passar a descrição dos espectros, primeiro seria fazer Frodo Bolseiro dizer ‘eu… eu coloquei o anel. Em seguida as formas ficaram terrivelmente nítidas, e eu pude ver por baixo de suas capas pretas. Seus rostos eram brancos com olhos brilhantes e cruéis…’ mas ele descartou isso, preferindo o uso do narrador.”

Os arquivos da BBC também preservaram as reações do público na década de 1950. Um ouvinte reclamou: “se devemos ocupar o Terceiro Programa com contos de fadas, então que seja Enid Blyton.”

Mas a crítica do Observer (jornal do Reino Unido, associado ao The Guardian) descreveu a dramatização como “o melhor programa leve para as próximas cinco semanas”.

The Great Tales Never End: Essays in Memory of Christopher Tolkien será publicado em junho pela Bodleian Library Publishing.

 

Original publicado em: https://www.theguardian.com/film/2022/mar/12/hoard-of-the-rings-lost-scripts-for-bbc-tolkien-drama-discovered

Tradutor, revisor e tagarela. Ama ler, ouvir música e jogar videogame. Adora estudar mitologia e cosmogonia. Pode ser encontrado em casa, tomando café ou pensando em novos projetos.